12 agosto 2025

eduarda chiote / inteireza

  
De obsessivo sol, surgia, na praia,
a inteireza severa
de um rochedo
se oferecendo à voracidade do magma
e ao que nele, de mais fundo,
almejava
sangrar.
 
O mênstruo das águas
coroava-o,
e era por essa cor tingida de pulmões
que algo de muito agudo,
um bicho, de um ocre indistinto
da sua natureza,
deslizava. Respirando-lhe, nos interstícios,
um silêncio
possesso de morte.
 
Em inesgotável nudez, a pele de um homem
escalava-o
e tão de dentro para fora, tão inteira e exacta,
que o gesto
lhe apagava a sugestão
de eternidade.
 
 
 
eduarda chiote
a celebração do pó
asa
2001
 



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