28 julho 2023

alexandre sarrazola / café mounir

 
 
em torno da praça e de seu solitário cedro em círculos cegos
          caminhavam os velhos
a sineta de um mendigo e a obstinada fuga à palavra (seus
          eufemismos todos);
na mesa do Café Mounir, hoje à chuva, o lugar-comum do meu chá
          por beber
um engulho no telefonema breve: a voz do teu filho a dizer-me que
          quiseste ficar
no lugar em que a terra se te encostou ao peito largo de cedros faias
          e aveleiras
 
 
coxeavam em círculos ainda assustados, sempre de mãos dadas, pela
          praça do minarete
engalanada com reclames luminosos em línguas nazarenas; um cão
          cego à minha beira
submergiam do aquário índigo das ruas (olhos ao alto) e cegos
          jamais se perdiam
– sob as luzentes águas da montanha – de mãos dadas andavam;
          um cão à tua beira
 
 
eu pousava o auscultador e o fumo subia da minha boca para um
          retrato de Hayworth
pendurado em frente ao pórtico da esplanada, por detrás da
          teleboutique e das revistas:
e tu com ele para o canídeo dorso do céu – só esta noite – órfão
          de estrelas
 
 
 
alexandre sarrazola
resumo, a poesia em 2013
assírio & alvim
2014
 




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