[ para o Barnabé, felino]
A carne é
triste, mas eu leio pouco,
menos ainda
do que o meu gato,
que talvez
desculpe um dia
o
indemonstrável possessivo
que escrevi
sem muita convicção.
Pode-se
fazer tanta coisa, à noite.
Ouvir por
exemplo Bach
— o pai —,
tendo por único
cuidado uma
atenção distraída
ao gelo que
estala no copo
de vidro
indonésio. Sim,
não me parece
que eu seja,
para já,
«politicamente correcto».
— Ou
experimentar o amor,
de novo e
sempre o amor,
com frias e
esgotadas lágrimas
de lume. E,
se o amor não
vem
(acontece), posso ir dizê-lo
a ninguém, à
porta de bares sombrios,
sem esperar
sequer um poema.
Porque nem
tudo se escreve,
percebe
acordando o gato.
Possa ele
também não saber,
neste
Inverno, que a carne
é mesmo uma
coisa muito triste.
manuel de freitas
[ sic ]
assírio
& alvim
2002
Sem comentários:
Enviar um comentário