Música silenciosa da cor, rumor do pincel e da tela,
símbolo simples, segredo azul e cinzento.
O tempo passa, mas não fere, parece flutuar,
suave nos contornos, detido nas formas,
reflexos onde a realidade se sonha,
inventada luz, por isso mais intensa.
Milhares de olhos e um único olhar
para pintar esta garrafa, depurar o branco daquela cerâmica,
despir, transparente pele cálida, fulgor acariciado,
o vidro, a toalha, a madeira, as frágeis flores,
para sonhar diferente e única,
repetida e comum, esta matéria eterna,
as suas marcas e espuma, a sua pálida cinza.
juan luis panero
poemas
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d'água
2003
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