14 outubro 2013

edgar allan poe / o lago-para...


Tive eu na mocidade ocasião
De achar do mundo vasto um lugar
O qual eu não podia mais amar...
Porquanto me encantou a solidão
De um agreste lago por penedos
Circundado, e por altos arvoredos.

Mas quando a noite o seu sudário
Deitava em tal lugar, e em tudo à volta,
E o vento misterioso andava à solta...
E o vento um canto murmurava...
Ah... era então que eu despertava
Para o terror do lago solitário.

Contudo tal terror não me assustava,
Mas com tremores me deleitava...
Um sentimento tal cujo mistério
Excede mil jazigos de minério...
E mesmo o teu Amor... que eu cobiçava.

No veneno da onda havia dolo,
E em seu vórtice um esquife apropriado
A quem aí buscava o consolo
De um espírito inventivo desterrado,
Erguendo, em seu delírio transviado,
Um Éden no sombrio e torvo lago.


edgar allan poe
the raven and other poems, 1845
tradução de margarida vale de gato



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