nela. Quero ainda estar vazio de coragem
alguma. Vazio como sempre estive.
Agora que o sol no olhar me arde
desejo crer nele até vê-lo apagado
em mim.
Oh o murmúrio desta certeza que me enche
de ser inteiro como o mistério e claro
como qualquer reflexo do rio. Tudo pára
para ser contemplado por mim.
A minha dor já quase me não pertence.
Já quase me não reconheço falando de mim.
E a minha vida não se torna presente
na minha memória que o tempo esgotou.
Quero ainda contemplar o que não farei
de novo, medir o cansaço dos meus olhos
e do meu verso. Quero deixar que chegue a noite
e a luz que lhe é própria, que chegue
e outra tarde, que eu possa contemplá-la…
ossos de sépia
noemas
língua morta
2022