No céu
pardacento,
uma nuvenzinha
ainda mais pardacenta
com o halo
solar negro.
À esquerda, ou
seja, à direita,
o galho branco
da cerejeira com as suas flores negras.
No teu rosto
escuro, umas sombras claras.
Estás sentado à
mesa
e pousaste nela
as mãos acinzentadas.
Dás a impressão
de ser um espírito
a tentar evocar
os vivos.
(Uma vez que
ainda faço parte deles,
deveria aparecer
e dizer-lhe:
boa noite, ou
seja, bom dia,
adeus, ou seja,
bem-vindo
e não lhe
poupar perguntas a nenhuma resposta,
caso digam
respeito à vida,
ou seja, à
tempestade antes da bonança.)
wislawa szymborska
instante
trad. elzbieta
milewska e sérgio neves
relógio d'água
2006