CONVERSAS COM CASCAS DE ÁRVORE. TU, tira a casca, anda, tira-me, feito casca, da minha palavra. É tarde já, mas nós queremos estar nus e à beira da navalha. paul celan a morte é uma flor trad. de joão barrento relógio d´água 2022
Olhos con- vertidos à cegueira. A sua - «um enigma é puro brotar» –, a sua memória de torres de Hölderlin à tona de água, no esvoaçar de gaivotas. Visitas de marceneiros afogados com estas palavras a afundarem-se: Se viesse se viesse um homem, se viesse um homem ao mundo, hoje, com a barba de luz dos patriarcas: só poderia, se falasse deste tempo, só poderia balbuciar balbuciar sempre, sempre, só só. paul celan trad. joão barrento as escadas não têm degraus 3 livros cotovia março 1990
NO POÇO DO
TEMPO, decifrando o mundo: a gaivota entra e fica, a greda ganha forma, do gelo em frente acena aquele que é para mim e para o mundo o mais perigoso dos nomes. paul celan a morte é uma flor trad. de joão barrento relógio d´água 2022
OIÇO TANTA COISA DE VÓS que não oiço mais do que ouvir, vejo tanta coisa de vós que não vejo mais do que ver, tanta coisa me assedia com desconversa que dou por mim a falar como quem conversa, que dou por mim a falar como quem fica em silêncio. Eu vivo, forte. paul celan a morte é uma flor trad. de joão barrento relógio d´água 2022
NAS ESTRIAS de moeda celeste pela fenda da porta, forças tu a palavra fora da qual rolei, quando meus punhos trémulos o tecto sobre nós quebravam – ardósia por ardósia, sílaba a sílaba – pelo amor de um brilho cobre, no prato do mendigo, la em cima. paul celan trad. antónio magalhães hífen 5 março cadernos semestrais de poesia tradução 1990