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09 outubro 2024

antonia pozzi / náufragos

 
 
 
Náufragos sobre os escolhos,
cada um conta
a si mesmo – a história de uma doce casa
perdida,
a si mesmo ouve
falar alto
sobre o deserto pranto
do mar –
 
Triste jardim abandonado, a alma
rodeia-se de selvagens sebes
de amores:
morrer é este
cobrir-se de silvas
nascidas em nós.
 
 
 
antonia pozzi
morte de uma estação
trad. inês dias
averno
2019
 
 



06 setembro 2024

antonia pozzi / precoce outono

 




 

 

O nevoeiro é de prata, apaga
as sombras dos pinheiros:
são maiores os jardins
ao amanhecer.
 
Uma folha do choupo secou,
morreu um ramo do castanheiro
no monte.
 
Medos que eles próprios desconhecem
dormindo no ar celeste:
este fim que regressa todos os anos,
que se renova todos os anos.
 
Como a última árvore do bosque,
o último homem já contou os mortos:
mas a sua morte apanha-o
ainda de surpresa.
 
 
 
antonia pozzi
morte de uma estação
trad. inês dias
averno
2019
 



27 maio 2021

antonia pozzi / mais uma pausa

 
 
 
                          a L. B
 
 
Apoia-me a cabeça nos ombros:
que eu te acaricie com um gesto lento,
como se a minha mão acompanhasse
uma longa, invisível agulhada.
Não só sobre a tua cabeça: sobre cada face
que sofra de tormento e de cansaço
descem estas minhas carícias cegas,
como as folhas amarelecidas do Outono
numa poça que reflecte o céu.
 
 
 
antonia pozzi
um pouco do meu sangue
antologia de poesia italiana
trad. joão coles
contracapa
2020