Quando eu a
cinjo e ela me abre os braços,
sou como um
homem que regressa da Arábia,
impregnado de
perfumes.
*
Desço o rio
numa barca,
ao ritmo dos
remadores.
Com um feixe de
canas ao ombro,
vou para Mênfis,
e direi a Ptah,
senhor da verdade:
«Dá-me esta
noite a minha amada.»
Este deus é
como um rio de vinho,
com seus
maciços de canas.
E a deusa
Sekmet é como se fosse a sua moita de flores.
E a deusa
Earit, seu lótus em botão.
E o seu lótus
aberto, o deus Nefertum.
- E a minha
amada será feliz.
Levanta-se a
aurora através da sua beleza.
Mênfis é um
cesto de tomates
posto em frente
do deus de rosto puro.
*
Bom é
mergulhar, bom,
ó deus meu
amigo,
é banhar-me
diante de ti.
Adivinhas-me,
quando se molha
minha túnica de
fino linho real.
E juntos
entramos nas águas,
e à tua frente
eu saio das águas,
agarrando entre
os dedos
um estupendo
peixe encarnado.
– Olha para
mim.
*
Tanto se
alvoroça meu coração, de puro amor,
que metade da
minha cabeleira se desfaz,
quando corro ao
teu encontro.
Para que me
vejas sempre igual e bela
diante de ti,
eu componho os
meus cabelos.
herberto helder
poesia toda
o bebedor nocturno (versões)
poemas do antigo egipto
assírio &
alvim
1996