e não estar ali só por encontro.
A névoa donde sai uma defesa amedrontada.
Abro o livro com o velador, sem sobressalto
volto a adormecer. A outra cama
com a respiração, será sonho?,
de quem dorme sem pressentimentos.
tijolos, tubos, ferragens sem deriva
me trazem o que é a vida; a que se contrapõe,
como dantes diziam, à verdadeira.
De quase tudo salta um estilhaço,
um cerro de fornalha que naufraga
por encontros que no longe constroem
sofrimentos tirados à pressão,
com muita espuma, cuspo a casca dos tremoços.
Por aí me dirijo ao uso destinado.
a linha do frio, o monte que fora civil.
Comboios regionais meio desfeitos,
pontões de madeira, estradas de pó batido,
tudo lento, com a medida sépia do tempo,
disposto para nos dar desvalor.
Escrevo para não esquecer:
o silvo de um muro, uma chave quebrada,
tudo o que da alameda já não vejo
e quando descia do alto do adro
para dentro das tuas mãos.
sobe do invisível e fica baixo
sem causar sinais
até ao instante em que desmoronamos.
Descobre-se, no próprio crematório
da vitória abrupta de tantos,
que nele nenhuma coisa é nossa.
Quem é, quem são, que fazem
ninguém conhece e nada nos diz.
Vias, detritos, uma gente pesada
que sai de carroçarias e regressa,
ao fim de tempo farpado, à escuridão
em que tudo nos soterra. Seu destino
a devastada aceitação dos que por votos
lhes dão o caos e a mediania.
antes das estrelas sujas,
calca vestígios de se ter partido
para o cansaço de outros lugares,
o airo forçado nas arribas com óleo sem rota,
pinhais que já não voltam a acender-se,
fábricas de chapa sanguinolenta.
que preferem a peste, a separam em clínicas de cal
para fugirem à agressão dos murmurros que avançam
em impropérios inúteis de combater.
quem és? Não entendes quanto sofre
o teu mendigo, eu, enquanto o vês fechado
com o livro a meio da sua noite,
sem a sombra de terra da azinheira,
sem o loendro num jardim.
Embora de face nos agarremos
e prontos para o entorno nos encontrem
todos os que excluem.
Um homem diante de dois homens
amando-se no centro da desordem,
por esse amor tecendo melodia.
Além da nuvem transitória que ceava,
além da asfixia.
quem fez deste país este país?
embora seja tarde. Embora, na realidade
e sempre,
seja primeiro a nós que matarão.
porque encontrei a blindagem do teu rosto
encostada a cada ponte que levava
de um lado do mundo ao outro lado da desolação.
sobre a manta lilás
e sobre a vinha.
alta noite em alta fraga
relógio d´água
2001