pergunto
mais uma vez:
o que é isso
de cantar?
e talvez tudo
se resuma
a gestos
simples
ao ar frio da madrugada,
a que outros se agarrem,
às superfícies habituais
ou então
encontrar o ímpeto,
o momentum,
o momento,
o mau vento,
o isqueiro,
o dialecto,
o rastilho,
o esqueleto,
o vago lume
do intelecto,
o desejo que desejas,
de flores em coroa
e cerejas, espuma
branca das cervejas,
ganas esganadas,
vendaval aberto,
visceral acerto,
um módico
de ironia ácida
na óbvia motivação
tácita, mais
as feridas
abertas há
séculos entre nós
e a Taprobana,
uma mesma, comum,
taquicardia, a tornar dura
a mole humana
Tudo à primeira, sem esforço
e só escorço
por cima do verso o risco
que o rasga como aos vermes
da terra a lâmina da enxada
a incisão oblíqua, o reverso, golpe
mortal no que ficou aquém de terso
Sempre
tudo por dizer?
E então?
Passemos
a palavra
como quem
trafica, sim,
como quem trafica
ouro roubado
(ouro marado)
voo rasante
antologia de poesia contemporânea
mariposa azual
2015