04 janeiro 2022

francis gérard / a zona do nada

 
 
 
A moral ainda se defendia. Proibia o espírito de se vergar às finalidades. Votando-o ao desapego como à nudez, ela afastava dele os projectos que lhe determinariam um futuro a curto prazo, ela despia-o das formas às quais ele se prestava (vistos de cima, todos os domínios do espírito se fundem). O seu exercício, em regime de pura perda, era uma observância e uma distracção. Vendido por seus irmãos, ela devolvia-o a si mesmo.
 
É então que ele dá livre curso ao seu poder. Ignora qualquer duração que se apague para o deixar passar. Já nada espera das suas próprias palavras que espalha como rosas e adagas pelos espasmos do vento. E erupção da sua vida transcende qualquer preocupação e a defesa moral cai como uma barricada estiolada. Já não existe para ele nenhum ponto de referência, nenhum problema moral se lhe coloca. Os polvos de referência adormecem no riacho das suas artérias.
 
 
 
francis gérard
sonhador definitivo e perpétua insónia
uma antologia de poemas
surrealistas escritos em língua francesa
trad. regina guimarães
contracapa
2021





03 janeiro 2022

adonis / portanto

 
 
Portanto,
Que o prazer seja um prefácio do que nos espera no invisível.
«A vida é redonda, como uma maçã», diz-nos essa língua
eis-nos feitos menos que uma sombra,
a origem não passa já de um pálido e miserável eco,
o país na sua totalidade é reflexo de uma sombra, sombra de
        um reflexo
abre os teus olhos indivíduo para te convenceres de que não
        te pertencem
 
 
 
adonis
arco-íris do instante
antologia poética
tradução de nuno júdice
dom quixote
2016




 

02 janeiro 2022

carlos de oliveira / o fundo das águas

 
 
Adensam-se as formas vagas, surdindo tumultuariamente de não sei quê desesperado ainda como o mundo dos princípios; adensam-se os elementos, os vendavais, a aspereza do ferro, do cálcio, da lava, a fereza biológica dum fundo que não tem outro destino senão explodir.
 
Estou a sentir na sombra: um rumor de larvas e sementes, o amor de que sou capaz pela vida e pelos outros; o esboçar dalguma flor negra acordando, um ritmo de versos; caprichos da botânica  ou desvios da alma; o vento da harmonia submerso entre caules sanguíneos e rugosos; a breve tempestade das conchas e dos peixes, a grande solidariedade que vos devo.
 
O que me espanta é a aceitação de cada dia. e desta angústia vou tecendo as palavras, desta água salgada e doce como as lágrimas e o sangue. Tecendo escuramente as palavras.
 
 
 
carlos de oliveira
terra de harmonia
a leve têmpera do vento
antologia poética
quasi
2001




01 janeiro 2022

konstandinos kaváfis / ítaca

 
 
Quando saíres a caminho da ida para Ítaca,
faz votos para que seja longo o caminho,
cheio de aventuras, cheio de conhecimentos.
Os Lestrígones e os Ciclopes,
o zangado Poséidon não temas,
coisas assim no teu caminho não acharás nunca,
se o teu pensamento permanecer elevado, se emoção
requintada o teu espírito e o teu corpo tocar.
Os Lestrígones e os Ciclopes,
o selvagem Poséidon não encontrarás,
se com eles não carregares na tua alma,
se a tua alma não os colocar à tua frente.
 
Faz votos para que seja longo o caminho.
Para que sejam muitas as manhãs de verão
nas quais com que contentamento, com que alegria
entrarás em portos vistos pela primeira vez;
para que páres em feitorias fenícias,
e para que adquiras as boas compras
coisas de nácar e coral, de âmbar e de ébano,
e essências de prazer de qualquer espécie,
quanto mais abundantes puderes essências de prazer;
para que vás a muitas cidades egípcias,
para que aprendas a e aprendas com os letrados.
 
Deves ter sempre Ítaca na tua mente.
A chegada ali é o teu destino.
Mas não apresses em nada a tua viagem.
É melhor durar muitos anos;
e já velho fundeares na ilha,
rico do que ganhaste no caminho,
sem esperares que te dê Ítaca riquezas.
 
Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem Ítaca não terias saído ao caminho.
Mas já não tem para te dar.
 
E se um tanto pobre a encontrares, Ítaca não te enganou.
Sábio como te tornaste, com tanta experiência,
já hás-de compreender o que significam Ítacas.
 
 
 
konstandinos kavafis
os poemas
I (1905-1915)
trad. joaquim manuel magalhães e
nikos pratsinis
relógio d´água
2005




31 dezembro 2021

manuel antónio pina / azul

  
A luz, se formos luz. A sombra
se formos sombra: os olhos, sombra;
o coração, sombra: a própria luz
do pensamento, exílio e sombra.
 
Na infância (pois fomos
jovens um dia) atrás dos reposteiros
o invisível vigiava
o nosso sono desperto.
 
Agora que acordámos
do amarelo e do azul
e do branco e do azul
e do coração e do azul,
 
como regressaremos
a este mundo?
(O azul não é deste mundo,
nem os olhos são deste mundo).
 
À nossa porta batem
inúteis lembranças: sombras.
Cegámos. Os amigos (sombras)
morreram de doenças de velhos,
o enfarte, a solidão, ou só
de morte, e nem
uma réstia de azul iluminou
o seu último olhar.
 
Se ao menos tivéssemos
envelhecido sem motivo, sem tempo,
desaparecido para dentro
lucidamente, como uma coisa desprendendo-se!
 
 
 
manuel antónio pina
moradas
todas as palavras, poesia reunida
assírio & alvim
2012





30 dezembro 2021

pierre louÿs / uma noite à lareira

 
 
LXXXII
 
É duro o inverno, Mnasídica. Salvo na cama,
o frio é omnipresente. Apesar de tudo, levanta-te, vem comigo,
porque acendi um lume farto com achas e raízes mortas.
 
Completamente nuas, aquecer-nos-emos agachadas,
os cabelos soltos pelas costas, e beberemos leite
pela mesma taça e comeremos bolinhos de mel.
 
É espantoso como as chamas são sonoras e alegres.
Não estás demasiado perto? Tua pele tornou-se vermelha.
Deixa-me beijá-la onde o calor a fez escaldante.
 
Nos tições ardentes, vou aquecer o ferro
e pentear-te diante do lume. Com o carvão que restar
entre as cinzas, escreverei teu nome na parede.
 
 
 
pierre louÿs
o sexo de ler de bilitis
bucólicas em panfília
trad. maria gabriel llansol
relógio d´água
2010




29 dezembro 2021

adília lopes / os namorados pobres

 
 
 
O namorado dá
flores murchas
à namorada
e a namorada come as flores
porque tem fome
 
Não trocam cartas
nem retratos nem anéis
porque são pobres
 
Mas um dia
têm muito medo
de se esquecerem
um do outro
então apanham
um cordel
do chão
cortam o cordel
com os dentes
e trocam alianças
feitas de cordel
 
Não podem
combinar encontros
porque não têm
número de telefone
nem morada
assim encontram-se
por acaso
e têm medo
de não se voltarem
a encontrar
 
O acaso
não os favorece
 
Decidem nunca sair
do mesmo sítio
e ficarem sempre juntos
para não se perderem
um do outro
 
Procuram um sítio
mas todos os sítios
têm dono
ou mudam de nome
 
Então retiram
dos dedos
os anéis de cordel
atam um anel
ao outro
e enforcam-se
 
Mas a namorada
tem de esperar
pelo namorado
porque o cordel
só dá para um
de cada vez
 
O namorado
descansa à sombra
da figueira
e a namorada
baloiça
na figueira
 
O dono da figueira
zanga-se
com os namorados pobres
porque julga
que estão a roubar figos
e a andar de baloiço
 
 
 
adilia lopes
dobra
poesia reunida
os namorados pobres (2009)
assírio & alvim
2021




28 dezembro 2021

pedro tamen / poema à moda antiga

 
 
 
Chegaste, como eu, da outra margem
aos enigmas dos lobos indecisos
entre mudar de cores ou a pelagem
e destruir em nós o som dos guizos
que outrora desdobrava as nossas falas.
 
E assim as malas podres da bagagem
que transportamos são maiores que malas
– recordação polar da nossa imagem.
 
Deixemos pois as gulas e juízos,
golpes de facas vis, rotas de balas,
agoniados tufos de paragem;
 
recomecemos surdos, tardos, lisos
do que jamais eu disse ou que tu calas:
o nosso rio, amor, é só barragem.
 
 
Abril, 1989
 
 
 
pedro tamen
colóquio letras 113-114
janeiro-abril de 1990
fundação calouste gulbenkian




 

27 dezembro 2021

joaquim manuel magalhães / lareiras

 
 
Estendi o braço, apaguei a luz,
senti os seus lábios cercados de rendição.
 
Do meio de uma tristeza que não podia findar
abraçámo-nos e, no centro mais cego do pavor,
de novo nos encontrávamos. Mais perdidos,
mais perto, tão perto que chorávamos as mesmas lágrimas.
 
Vivia na rede de ruas ao alto da vila
sobre o porto. Numa casa de tinta nova
com a entrada confusa, nunca
soubemos lá ir dar.
Certas vezes tinha o rosto coberto de sangue.
Nós e a noite cortávamos de beijos a sua dor.
 
Primeiro o lume salta. Bate nos tijolos,
destrói o fumo que sobe na chaminé.
Depois os toros estalam. Abre-se o calor
para dentro da sala, a nossa pele
encontra a tua pele, esquece
a realidade: o teu pequeno emprego, o tempo
que não tens, o dédalo
sexual da situação de classe.
Por fim as chamas começam a tombar
em brasas, em cordões de cinza.
 
O seu rosto cintilava nos fins de tarde
em que seguíamos para nossa casa.
Mas quando tirava a samarra e abria,
um por um, os fechos do blusão,
ninguém se lembrava desse rosto, o acetilene
dos dedos corria-nos sobre o peito,
o mundo inteiro parecia incendiar-se.
 
Estavam envolvidos num manto,
sentados no chão de pedra, as labaredas
roubavam sombras nos seus corpos.
Nas horas de depois dos bares,
um pouco antes de amanhecer.
 
Um rapaz nos últimos anos da juventude.
Confirmava do amor a rápida colheita,
o cansaço tardio, a maldição
de me ter dado e ter perdido. E voltar a perder-te
quando for a tua vez de achares quem te receba,
quem te faça pagar-me, faca por faca,
o preço das trocas tão deserta dos outros amores.
 
Outras vezes, ao beijares os seus olhos
verás como se fecham a fugir. Dantes
temiam reabrir-se e encontrar os teus
fixos na parede, em busca doutro corpo
que não sabias quem viria a ser.
 
A testa de altura moderada,
o nariz rectilíneo, os olhos
cor dos ouriços vivos, o lábio inferior
tenso e sem sorrir e os cabelos
iluminados, abertos à solidão.
 
Vai crescendo com o dia a dia a saudade.
Os dois príncipes melancólicos
aguardam o mensageiro.
O trovador, o mar, cobre-se de segura tempestade,
canta de encontro às rochas uma exaltação.
Aprendo a viver o sofrimento da espera,
a despedida, a chegada do temível triunfo.
 
Duas braçadas de lenha dão para uma noite
de repouso e ouvimos um do outro
o silêncio de muitos anos de conflito.
Outras vezes a triaga do ciúme agita-se
ao vento peregrino das dunas. As jóinas
não tardam a reabrir e os cardos roxos,
ouve, os cães a ladrar enquanto chove
nesta primavera que não devia voltar.
 
Posso sentar-me junto de ti?
Pegar na tua mão?
 
 
 
joaquim manuel magalhães
segredos, sebes, aluviões
editorial presença
1985




26 dezembro 2021

maria gabriela llansol / o raio sobre o lápis


 

IV
 
Ontem sobrevivi a uma noite de inverno, depois de um dia que teve o ritmo do conflito __________, do encontro __________, e da espera.
 
__________ no terraço, a emanação da noite era exactamente igual à da outra noite na minha infância de Alpedrinha.
 
Era a noite de um afecto profundo,
depois de um conflito que me marcara; não havia vento na noite,
mas eu pensava no vento à deriva, e levantei a cabeça para ver de que lugar vinha ele do céu; deparei, primeiro, com o azul tinta, sem estrelas, e depois com as próprias estrelas frias e cintilantes que me aproximavam do espaço onde eu queria permanecer. Elevei-me, então, ao céu, sempre com a cabeça inclinada para trás.
Minha cabeça, olha.
Distintamente, todas as estrelas da Ursa Maior – as quatro do trapézio, a cauda e, seguindo o que me ensinaram na Escola, vi a Estrela Polar.
 
Com a infância invertida sobre
a minha cabeça – e quase sem eu em face de um princípio de céu
no meu firmamento – estremeci com o afecto delicioso do mundo;
não podia deixar de olhar para cima, de parar de respirar a noite, de murmurar
que estava a criar uma linguagem térrea para a estrela polar.
 
As quatro estrelas sustentavam o brilho da Ursa possuíam o esplendor de um animal suspenso da sua cena. Sem a posse do eu que está no céu, não sei que fazer da minha infância. O animal duradouro da terra começa a noite, e é o primeiro dos meus afectos que vão pelo mundo;
 
Foi assim que me trouxeram a casa,           nem sequer houve suspensão na noite inesquecível; a meio da estrada, vimos um vulto à mercê do primeiro automóvel que passasse.
 
Olhei profundamente o chão, na noite, com a mesma expressão de olhar que erguera para o céu; e sob o labéu de feio na sua boca de sapo, descobri um ser de natureza tocante, de aspecto vulnerável e bizarro, em que cada feição me atraía o afecto e o amor. “Ele á assim, infinitamente belo, através de uma outra percepção do Universo”, pensei. “Mas não está no bom caminho”, fiz-lhe sentir, com a rapidez indizível da comunicação directa. “Vou pôr-te no bom caminho, pois eu tenho braços, e posso proteger-te do meu falcão.”
 
Tenho uma certa relutância, por causa da pele viscosa, em pegar directamente no sapo fulgurante, envolvi-o na minha camisola, e pu-lo ao abrigo do olhar de Aramis.
 
A noite passava, profunda, pelo mundo,
E roubava as almas que amavam o livro de imagens, desde o princípio dos sapos, e das constelações postas sob a protecção de um animal. A Ursa caminha no céu, um sapo dera-me o privilégio de eu lhe pegar,
a manhã estava por servir.
 
 
 
maria gabriela llansol
julião sarmento
o raio sobre o lápis
livro de artistas
europalia 91
1991




 


 

25 dezembro 2021

pier paolo pasolini / a madrugada meridional

 
 
Passeava nas proximidades do hotel – era ao entardecer –
e quatro ou cinco rapazes surgiram,
na pele de tigre dos campos, sem
um penhasco, uma cova, um resto de vegetação
que fosse abrigo para eventuais disparos: que
Israel estava ali, sobre a mesma pele de tigre,
semeada de casas de cimento e muros
inúteis, como em todos os subúrbios.
Fui ter com eles, àquele lugar absurdo,
longe da estrada, do hotel,
da fronteira. Foi mais uma amizade,
daquelas que duram uma noite
e atormentam depois toda uma vida. Eles,
deserdados, e também crianças
(que, dos deserdados têm o saber
do mal – o furto, a rapina, a mentira –
e, das crianças, o idealismo ingénuo
de sentir que se consagram ao mundo),
tiveram logo a velha luz do amor
– como de gratidão – no fundo dos seus olhos.
E falando, falando, até
cair a noite (e já um me abraçava,
ora dizendo que me odiava, ora que não,
que me amava, me amava), soube, por eles, todas as coisas,
todas as coisas mais simples. Eles eram os deuses,
ou filhos de deuses, que misteriosamente disparavam,
por um ódio que os faria descer das montanhas de argila,
como noivos sedentos de sangue, sobre os Kibutz invasores
na outra metade de Jerusalém…
Maltrapilhos, que agora vão dormir
ao relento, no fundo de um baldio dos subúrbios.
Com os irmãos mais velhos, soldados
armados de uma velha espingarda e bigodes
de mercenários resignados com mortes antigas.
São estes os Jordanos, terror de Israel,
estes que à minha frente choram
a dor antiga dos foragidos. Um deles,
emissário do ódio, já quase burguês (ao moralismo
chantagista, ao nacionalismo que empalidece de raiva
neurótica) canta-me o velho refrão
que aprendeu na sua rádio, com os seus reis –
outro, no meio dos seus trapos, ouve concordando,
enquanto, como um cachorrinho, se encosta a mim
não sentindo, naquele campo de fronteira,
no deserto jordano, no mundo,
mais que um mísero sentimento de amor.
 
 
 
pier paolo pasolini
poemas
trad. maria jorge vilar de figueiredo
assírio & alvim
2005




24 dezembro 2021

ovídio / metamorfoses

 
 
No centro do mundo há um lugar situado entre as terras,
o mar e as regiões celestes, os limites do tríplice universo.
Dali se avista tudo o que acontece em qualquer sítio, mesmo
no mais distante, e todas as vozes lhe chegam às orelhas ocas.
Mora ali o Rumor. Escolhera casa para si no cimo da cidadela.
À mansão proporcionou entradas sem conta e mil aberturas,
mas com portas nenhumas fechou os umbrais: de noite e de dia
permanece escancarada. É toda feita de bronze ressonante:
ela vibra toda, e ecoa as palavras todas, e repete o que ouve.
Lá dentro não há sossego nem silêncio em parte alguma.
Não é, porém, um clamor, mas antes um murmurar baixinho,
tal como costuma soar as ondas do mar quando se ouvem
ao longe, ou como o som do troar dos derradeiros trovões
quando Júpiter faz ribombar as negras nuvens.
O átrio formiga de gente; vêm e vão, multidão insubstancial,
e por toda a parte vagueiam milhares de rumores, falsidades
à mistura com verdades, e fazem rebolar conversas confusas.
Estes atafulham os ouvidos ociosos com mexericos,
aqueles levam aos outros o que ouviram contar, e a invenção
cresce de tamanho: cada um junta algo de novo ao que ouviu.
Ali mora a Credulidade, ali o Erro que age sem pensar,
e a Alegria fútil, tal como os angustiados Temores,
e a repentina Sedição, e os Sussurros, de origem incerta.
Dali o Rumor observa tudo o que se passa no céu e no mar
e na terra, e tudo procura inquirir sobre o mundo inteiro.
 
 
 
ovídio
metamorfoses
livro XII
tradução paulo farmhouse alberto
livros cotovia
2018




 

23 dezembro 2021

luís miguel nava / retrato

 
 
A pele era o que de mais solitário havia no seu corpo.
Há quem, tendo-a metida
num cofre até às mais fundas raízes,
simule não ter pele, quando
de facto ela não está
senão um pouco atrasada em relação ao coração.
Com ele porém não era assim.
A pele ia imitando o céu como podia.
Pequena, solitária, era uma pele metida
consigo mesma e que servia
de poço, onde além de água ele procurava protecção.
 
 
 
luís miguel nava
o céu sob as entranhas
poesia
assírio & alvim
2020