Adensam-se as formas vagas, surdindo
tumultuariamente de não sei quê desesperado ainda como o mundo dos princípios;
adensam-se os elementos, os vendavais, a aspereza do ferro, do cálcio, da lava,
a fereza biológica dum fundo que não tem outro destino senão explodir.
Estou a sentir na sombra: um rumor de larvas e
sementes, o amor de que sou capaz pela vida e pelos outros; o esboçar dalguma
flor negra acordando, um ritmo de versos; caprichos da botânica ou desvios da alma; o vento da harmonia
submerso entre caules sanguíneos e rugosos; a breve tempestade das conchas e
dos peixes, a grande solidariedade que vos devo.
O que me espanta é a aceitação de cada dia. e desta
angústia vou tecendo as palavras, desta água salgada e doce como as lágrimas e
o sangue. Tecendo escuramente as palavras.
carlos de
oliveira
terra de
harmonia
a leve
têmpera do vento
antologia
poética
quasi
2001
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