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Julgavas, então, que a poesia era
um discurso
de palavras em sentido? Sei
quanto a musa aprecia
glória, poder e uniforme, quanto
aguarda
o cavaleiro que produz.
A vida, afinal, anda lá fora,
antes da folha
ter passado a prensa;
a mais pequena árvore é verde
eterna, comparada ao arbusto
que, mal tocada a haste, se
desvai em fumo.
Por isso eu fico lendo as
crónicas, as lendas,
o jornal que, bem ou mal, cruza
as palavras com o tempo,
e contudo! quando o lábio se
engana, solta
a mais aguda fífia do trombone,
e de repente o corpo sabe a
gente, e então se diz:eis
a verdadeira e pura poesia! pois seria,
talvez,
somente a tua mão, cobrindo a
folha.
antónio franco alexandre
terceiras moradas
poemas
assírio & alvim
1996