O inferno,
aqui. Deve ser normal.
Um choro de
criança, no andar
de cima, sobrepõe-se
à música
que não ouço
e que é talvez de Brel
(nenhum
quarteto de Mozart serviria agora).
Há dias
assim. Os guindastes
da insónia
não seguram a voz, desastre
anunciado
pela teimosia dos pássaros
suburbanos. Coisas
de muito esquecer,
se eu
pudesse. Mas o corpo hesita,
volta a ser
o envelope vazio
de um
destino por assinar ─ e que
nada tem,
neste momento, de «literário».
Sinto a luz
na garganta, sufoco
discretamente,
alheio ao excesso
de imagens
que me traz o dia.
A alegria,
se quiserem, fica para mais
tarde. Aqui,
de novo, morre-se muito mal.
manuel de freitas
[ sic ]
assírio
& alvim
2002
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