09 maio 2014

edmundo de bettencourt / abrigo



Presa da chuva corre a prostituta,
corre presa,
e em frente é a porta aberta do palácio que lhe acena.

Mas à entrada,
o resto duma sereia emerge do escuro,
e um lobo acorda do sono dum tapete,
com uma risonha flor nos dentes,

que a uma claridade subterrânea
o palácio está sem tecto,
suas paredes transparecem,
todo ele é uma poça de água cintilando!

Fora,
uma lira de chuva num deserto
acena à prostituta…



edmundo de bettencourt
poemas surdos
assírio & alvim
1981





1 comentário:

António Eduardo Lico disse...

Sempre um prazer reler a poesia de Edmundo de Bettencourt.