25 maio 2014

guillevic / canção



Minha filha, o mar,
Já o adivinhaste,
Não é uma prenda
Que te possam dar.

Minha filha, a onda
É um outro mundo
Onde o pé se afunda
E ninguém responde.

O horizonte, filha,
É um grão-vizir
Que há-de receber-te
Quando o fores abrir.

Minha filha, o espinho,
Bem o viste já,
Só se torna amigo
Se nos maltratar.

Minha filha, a dança
Que posso ensinar-te
Nos teus olhos brilha
E hás-de segui-la.

E, filha, a esperança,
Mais forte que o mar,
Mais forte que o espinho,
A onda e a dança.



guillevic
chanson, gagner  (1949)
vozes da poesia europeia III
traduções de david mourão ferreira
colóquio letras 165
fundação calouste gulbenkian
2003






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