O poema da
mente no acto de chegar
Ao que é
bastante. Nem sempre lá teve
De chegar: a
cena estava montada; dizia uma vez mais
O que estava
no papel.
Depois o
teatro mudou,
Fez-se outra
coisa. O passado ficou como uma lembrança.
Tem de estar
vivo, de aprender a linguagem do lugar.
Tem de
encarar os homens presentes e encarar
As mulheres
presentes. Tem de pensar acerca da guerra
E tem de
chegar ao que é bastante. Tem
De construir
um novo palco. Tem de instalar nele
E, como
actor insaciável, lenta e
Meditadamente,
proferir palavras que entram no ouvido,
No delicadíssimo
ouvido da mente, exactamente
Com o que
ele quer ouvir, palavras cujos sons,
Escutados por
um público invisível
Atento não à
peça mas a si mesmo,
Se manifestam
como uma emoção de duas pessoas, como
Em duas
emoções que se tornam uma. O actor é
Um metafísico
nas trevas, dedilhando a corda
Dum instrumento,
a metálica corda que produz
Sons que
atravessam súbitos alinhamentos perfeitos,
Todos contendo
em si a mente, abaixo dos quais
Ela não pode
descer, além dos quais não quer subir.
Tem
de
Ser esse
chegar a uma satisfação, seja a de
Um homem
patinando, uma mulher dançando, uma mulher
Penteando-se.
O poema do acto da mente
wallace stevens
trad. de
alberto pimenta e
maria irene
ramalho de sousa santos
as escadas não têm degraus 3
livros
cotovia
março 1990