Sozinho frente ao mar. Não numa praia baixa, não, mas sim numa
abrupta e altiva escarpa. Não chegava até mim qualquer ruído: o
vento só me trazia o rumor do vento. Pelo meio-dia, comecei a
caminhar ao longo de um atalho paralelo â costa. Após um certo
tempo, descobri uma espécie de curral irregular, escondido no meio
das silvas. No entanto, nele não havia gado, nem sinais de alguma
vez ter havido. No centro daquele espaço fechado erguia-se um cubo
de pedra negra, com cinco palmos de lado. Ao aproximar-me, ouvi
saírem da minha boca sons que se articulavam em frases de uma
língua estranha; eu ignorava o seu significado, mas pressentia que
recitava textos de uma liturgia pretérita. Se me calava, reconhecia no
silêncio a minha voz, e vice-versa. Correndo como um possesso refiz
o caminho, para trás, para regressar ao lugar onde o meu itinerário se
tinha iniciado, com a pressa de descobrir o segredo daquela fala. Para
lá da névoa que começava a velar o horizonte distinguia-se,
tenuemente, a fina linha do esquecimento.
antoni clapés
poemas
tradução de egito gonçalves