Um dia disseste: parecia a presença de uma ausência
(ou talvez parecesse a própria ausência da ausência).
Nada faltava sob aquele céu figurado.
Também disseste: só a ficção é real,
só aquilo que invento existe
- o resto não é sequer literatura -,
Outro dia congregaste palavras. Palavras
que tinham caído do silêncio
como cinza espalhada por um voo de aves.
Testamento ou herança, aquele livro começou
a inscrever-se nas estâncias brancas
da memória, enquanto um bisturi de luz
fendia as imagens uma a uma: no teu coração
começou a habitar, talvez ainda mais
e para sempre, um tigre com olhos de fogo.
antoni clapés
poemas
tradução de egito gonçalves
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