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É uma casa velha, na montanha, com portas que
guincham e uma humidade que a circunda a toda a hora, como um pano de cozinha
encharcado em vinagre. Também há aranhas que parecem feitas de teia metálica,
gavetas não marcadas que custam a abrir, recantos onde a vassoura nunca chega,
uma chaminé de cinzas cansada. Como poderia falar de uma casa que é ao mesmo
tempo tantas casas? Repara, parece uma caixa mágica estofada de espelhos:
abre-a, e lá de dentro sai outra; abre-a, e lá de dentro sai outra; abre-a, e
lá de dentro sai outra. Talvez por isso se diga que as casas são como as
pessoas.
gemma gorga
livro dos minutos (2006)
o anjo da chuva
trad. miguel filipe mochila
do lado esquerdo
2021
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