01 julho 2022

antónio ramos rosa / aqui onde o sol se acende em carne

 
 
Aqui onde o sol se acende em carne,
onde a casa é um nome de mar,
e os frutos e os espelhos
amadurecem o corpo solidário:
É Verão.
 
Aqui tu és
lenta verdade no sossego do sangue:
circulação de nomes e de peixes.
 
Aqui, à fome dos nomes e dos seres,
respondes, corpo do mar, coluna real
e teus acidentes se cumprem como ondas.
Aqui te palpo, vela, aqui te vejo, pomo,
formas meus braços, se te enleio,
desato simplesmente os teus anéis,
bebo-te sem te extinguir e sem me esperares.
Amanhã serás tu, sendo já hoje.
 
Recebendo-te como outra, outra nasces
e a ti mesma te igualas, porque és mar.
teu corpo denso se aproxima, ora se afasta.
Há um perfume de uma noite inextinguível
nas tuas coxas claras.
 
 
 
antónio ramos rosa
matéria de amor
editorial presença
1985



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