deflagra como se o mundo acabasse. Nada
renasce, nenhuma coisa melhora. Eu, que passei
nos anos a melhor parte da espera, entro na
gare e saúdo-vos, até virem melhores dias.
Nas casas, o rio deixa uma sonoridade de
milénios, de tal modo se torna inútil inquirir
da sua antiguidade. Os cafés superlotados do
outono contêm rostos ligados a uma cor pálida
e desgostada, pobres, jovens mães, romancistas
de carreira. E eu brinco com os dejectos à beira-mar.
espevito para os faróis a carne vermelha das
orelhas porque se faz tarde e os barcos, suas
quilhas que alongam, pervadem o salso mapa,
em direcção da terra. Isto que não sei que seja
sinto hoje ou sempre, não os outrora complicados
de um compatriota, não a resposta para como se
deve viver, mas esta atmosfera saudável que
cobre o rio, a morada do lótus, o rodado premicial
de guindastes e âncoras. Sorrio junto
a mais este cais, nova etapa do périplo que
efectuo na terra, mais quilómetros e dias
numa ampulheta de whisky.
A experiência de olhar, o desfile das paisagens,
a mais simples forma de idolatrar, estes rostos
ávidos, em pressa, fugindo-se mutuamente
at last acoitados ao abrigo de sótãos, carpetes
e ateliers. Por outro lado as algas cantam, de
completamente diverso modo os náufragos rezam.
A quem sabe da voragem nada jamais surpreende.
Nem os lábios que se acendem, nem o rubor dos
assassinos, nem coisa tão insolitada como o bater
regrado do interrogando no interrogado. Pois
as madeiras sonham barcos enquanto o
desgoverno nos oprime.
ossos de sépia
noemas
língua morta
2022
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