Depois vivi noutro andar avarandado. Tive três.
Três andares. Os táxis não eram demasiado caros.
Voltar a cabeça para ver outra rua não tinha nada
de especial. Em cada um dos três andares
tive um amante e amei como nunca.
Amei tanto que não podia suportar as varandas
sozinha e tive de recordar varandas, tive
de criar com varandas, tive de mudar-me
para outro andar sem varandas. E não desejo
amar ninguém, o meu desejo cansa-se. O meu desejo
já não suporta andares avarandados.
Estou sentada numa cadeira. Tenho em frente
a televisão. Olho para ela. Não a vejo. Olho para ela.
pormenor
poesia espanhola de agora vol. I
tradução de joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997
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