Definiríamos do mesmo modo a estranha poesia, o
animal magnífico que sei habitar um dos seus bestiários. Semelhanças – um certo
ar de família – eclodiriam no recíproco amplexo definicional. Como num desses
exercícios em que alguém procura o entendimento que uma assembleia tem do que é
uma ave. Que mapa se desenha quando alguém diz a palavra “ave”? e cúmplices –
de uma amizade intransigente – são aqueles que na palavra “ave” vêem o
assombro. Um pavão que desdobra a sua cauda e grita na noite? Melhor seria
considerar o cisne, o enorme cisne vertical a deslizar em silêncio sobre a
água. Talvez fosse assim que em acordo víssemos o mundo. Haveria o lento e
imenso deslizar do cisne. Haveria o tempo em suas múltiplas, insondáveis
metáforas. Haveria água. E haveria o sentimento de a profunda água ser mutável.
luís quintais
angst
dobra
livros cotovia
2002
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