Julho abria as suas portas, preparava a armadilha,
retirou da caixa o violino, os primeiros acordes prometeram o que não podiam
dar, peixes de loucura que espadanam no trigo, pastéis de creme em manhãs de
domingo, a cor da ternura que incendeia os gestos, anéis de esmeraldas
avançando na linha do oceano. Enganador, partiu, deixando sobre a mesa alguns
destroços, pedaços de caliça, o rosto da asfixia que retira o horizonte e
transforma a solidão em pedra tumular. A casa arrefece, não encontro a paz,
sigo a sombra dos meus pensamentos que desenha com cinza a superfície fria onde
nenhum verso, nenhuma imagem ressuscita. As portas de julho já fecharam, uma
visão agreste de ferrugem chove nos gonzos.
egito gonçalves
o esperado fim do mundo já partiu
uma antologia
língua morta
2020
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