04 julho 2021

adam zagajewski / os bárbaros

 
 
Nós é que éramos os bárbaros.
Pensando em nós é que vocês tremiam nos vossos palácios.
Era por estarem à nossa espera que o vosso coração batia desordenadamente.
Das nossas línguas é que vocês diziam:
talvez se componham só de consoantes,
de frufrus, sussurros e folhas secas.
Nós é que vivíamos nas florestas negras.
De nós é que tinha medo Ovídio em Tomi,
Nós é que adorávamos deuses com nomes
que vocês não conseguiam pronunciar.
Mas também nós conhecemos a solidão
e a angústia, e desejámos a poesia.
 
  
 
adam zagajewski
sombras de sombras
trad. marco bruno
tinta-da-china
2017





3 comentários:

Maria José Speglich disse...

Quem traduziu????

gs disse...

Falhou-me, na nota bibliográfica, a menção do tradutor. A tradução deste livro é de Marco Bruno com revisão de Jorge de Sousa Braga. A correcção já foi feita. As minhas desculpas ao tradutor e à editora.

Manuel Henriques disse...

Belo poema em resposta ao belíssimo e inesquecível poema "À espera dos bárbaros" de Konstantinos Kavafis, o grande poeta de Alexandria. Trabalhei na edição da versão bilingue de Adam Zagajewski quando fiz um pequeno estágio na tinta-da-china, fico feliz por vê-la ser utilizada, pelo que tive que deixar um comentário de apreciação! Cumprimentos