14 julho 2021

jorge de sousa braga / grande porto: flashes

  
O arco-íris que ontem se desenhava sobre o rio apresentava uma cor a menos: o verde. Após uma rápida investigação resolveu-se o mistério. Uma vaca fora surpreendida a pastar no arco-íris.
 
De manhã um som aterrador acordou a cidade. Era um Boeing que ensaiava com a cria – um biplano implume – as primeiras acrobacias aéreas.
 
Um homem passeara-se nu pela cidade com uma rosa na mão. Inquiridas pelo juiz as testemunhas revelaram-se incapazes de identificar a cor da rosa.
 
Funcionários públicos começaram à hora do almoço a invadir os jardins da cidade. As primeiras vítimas da sua voracidade foram as rosas. Pequenas escaramuças têm-se sucedido agora na disputa de um simples amor perfeito. Reunido de emergência o executivo camarário decidiu aumentar substancialmente as verbas destinadas aos jardins.
 
Na reunião da comissão de moradores de um dos bairros da zona oriental da cidade foi votada por unanimidade a substituição dos candeeiros de iluminação pública por pirilampos.
 
 
 
 
 
jorge de sousa braga
hífen 7 abril, 1992
cadernos semestrais de poesia
dias inúteis
1992




 

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