[…]
Num país estrangeiro, ao norte, cercados pela noite
onde a neve palpita friamente.
O ruído chega ao quarto como um vapor ligeiro,
indistintamente iluminado.
Falando baixo, enquanto a neve desliza pela janela
e um comboio passa, brutal.
Isto ao mesmo tempo que a noite, a neve e o rumor.
E a conversa interrompe-se, tendo ficado pelo meio
uma qualquer palavra, com sentido, essa também, porque todas as palavras eram
animadas de uma inspiração capital.
Era tudo terrivelmente importante.
Tudo é importante, enquanto a noite cria o seu
labirinto e o quarto se desloca para o coração do labirinto.
Estamos inclinados um para o outro, por dentro, e
eu sinto uma vertigem leve, como se soubesse que o chão poderia não ser
completamente seguro, e o abismo sempre prometido se fosse revelar.
O amado e terrível abismo.
[…]
herberto helder
apresentação do rosto
as imagens
porto editora
2020
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