é o que conta, não ter amado,
ou ter conhecido. Angustia
A alma já não cresce.
Neste calor encantado
entre os meandros do rio e as visões
adormecidas da cidade constelada de luzes,
o desamor, o mistério, e a miséria
dos sentidos tornam-me hostis
eram a minha razão de existir.
Triste, cansado, volto para casa,
ruas em redor do porto fluvial,
por entre barracas e armazéns que se misturam
de morte: mas, mais em baixo, na avenida Marconi,
ou na estação de Trastevere, a noite
para os seus subúrbios, regressam em motas
ligeiras – de fato-macaco ou calças
os jovens, com um companheiro no selim,
rindo, sujos. Os últimos fregueses
aqui e ali, na noite, às mesas
das tascas ainda iluminadas e quase vazias.
que me ensinaste o que os homens,
alegres e ferozes, aprendem em crianças,
da vida se descobre, como, por exemplo,
andar, duro e lesto, entre a multidão
sem tremer, não ter vergonha
de verificar o dinheiro contado
que foge, suando, rente às fachadas
numa cor eterna de Verão;
o mundo diante dos olhos e não
apenas o coração, compreender
em que vivi:
que, não sendo meus irmãos, são, porém,
paixões de homens
que, alegres, inconscientes, inteiros,
que nunca vivi. Maravilhosa e mísera
cidade que me fizeste viver
ignorada: até me fazeres descobrir
o que, em cada um, era o mundo.
que dela vive alveja em violentos
clarões, que, miseramente, na terra
nas velhas ruelas, cegam, mas não iluminam,
enquanto, lá em cima, farrapos de nuvens
É a noite mais bela do Verão.
O Trastevere, no seu cheiro a palha
vazias, ainda não dorme.
Nas esquinas escuras, nas pacatas paredes
Homens e rapazes regressam a casa
– sob festões de luzes que são agora o sol –
de escuridão e lixo, naquele passo brando
que mais fundo se cravava na minha alma
queria compreender.
E, como então, desaparecem, cantando.
poemas
trad. maria jorge vilar de figueiredo
assírio & alvim
2005
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