com as mãos atrás das costas, sem pressa,
entre as pessoas e os carros matinais.
Cumpridor, aquele rapaz
foi obediente toda a vida.
Hoje sai de trás daquele
que, durante tantos anos, foi o seu disfarce de homem.
Há algumas coisas que não mudaram,
coisas breves e suaves, como as ausências
que as primeiras luzes acendem no crepúsculo.
Recorda quando ao rapaz que hoje regressa
lhe explicavam que os mortos estavam no céu.
Este céu que é às vezes tão azul,
que é tão frio quando se afasta da terra,
tão negro quando se acendem as estrelas.
O rapaz regressa e agarra-o pela mão.
Os dois vão-se afastando
até serem um ponto no céu. Aves que passam.
misteriosamente feliz
trad. miguel filipe mochila
flâneur / língua morta
2020
1 comentário:
Muito bonito!
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