18 janeiro 2015

antónio reis / como o sol



como o sol
como a noite

como a vontade de comer
e o sono

como as preocupações
e o amor

e porque saio à rua
e trabalho
diariamente

Aos domingos
aos domingos o golo no estádio
chega até minha casa
e até ao mar

O próprio sol
é uma imagem de couro no espaço

a chuva
é uma imagem de redes batidas

Ah Que fazer
senão esperar pela semana

dormindo

O mesmo pensamento
a mesma ira

Para que serve a mão
Perde o sentido o próprio sofrimento

o coração
a lira

Desde quando amor
este segredo
e me vestir sem luz
sabendo que não dormes

atento a um ruído
mais claro

a um sorriso
e a uma lágrima
parada

Bate coração
no peito que te guarda

lâmpada
suspensa

fruto com cadência

estrela
em rotação pelos telhados

Bate coração

até as sombras se alongarem pelos braços



antónio reis
poemas quotidianos
1967




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