[…]
A flor da tinta é negra
Mas nos dedos dele toma muitas formas
Uma abelha… uma palmeira… uma rapariga a cavalo
Um planeta regressando de tempos idos
Uma bola de fogo acariciando de entre nós os áridos e os estéreis
Transformando a terra em chamas e estacas de fumo
Oh… como é vasta a nossa visão
… como é grande o nosso anseio
Oh, de uma gota de tinta quando atinge o nosso íntimo.
Magro botão de rosa que não consegue ver
E se enrola em volta do nosso pescoço, num cadafalso
[…]
Quando abri o frasco de tinta
E fitei a tinta
Encontrei um génio adormecido lá dentro
Assustei-me, a tinta manchou-me as pontas dos dedos
Tracei uma linha e outra
Tornaram-se ruas
E mais uma ou duas linhas
Chegaram os invasores
Um grupo de pobres veio em nossa defesa
O meu coração embriagado de orgulho e felicidade
Gaguejei um pouco
Divaguei um pouco
Ajudaram-me ou mataram-me os alfabetos
Queimaram-me a língua com balas
A tinta correu em todas as minhas veias
E o meu sangue correu nas veias dos jornais.
abdel karim sabawi
poesia do mundo /3
tradução de maria josé caelo
afrontamento
2001
Sem comentários:
Enviar um comentário