30 abril 2012

josé sebag / o planeta precário






a noite cerrou todas as janelas
alastrou um império de improviso para os
cães sem nome sem dono e atirou
longamente o seu queixo de toneladas até
à mancha
espalmada do rio

e à sua maneira de nos insultar
a tristonha envergadura da sua queixa

as palavras
que usamos
têm  a idade que aparentam

atingidas pela velhice ou pelo descrédito
num alvoroço se oferecem ao abismo

despenhadas rolam
e se confundem com a lava
com a espuma tensa do tempo ainda intacto

para de novo nascerem noutra pátria
mais respirável
ternamente povoar o indómito e triste
hálito
do mais apavorado e generosos bicho

À hora de morrer vai ser necessário
imitar a navegação tumultuosa e resignada
das palavras.

Entre elas e o poeta
um segredo brinca
religioso
trémulo
e imprudente

um segredo amoroso e repugnante

Tu, que de há tanto e tão bem o conheces
melhor te será conservá-lo escondido
até ao momento da surpresa
que a morte branca do medo exige

Cada um de nós, deve ser, não a lei, mas
o galho inopinado e ímpar
o plano imediato da evasão
alucinado e lúcido

Cada um de nós deve ser o momento
de recusar férias à ferida
e de mandar matar todos os parafusos
destronar todas as molas reais
ou irreais
da

respiração artificial

pendurada do tecto
a tua ausência informa: é madrugada
bela notícia confirmada
o céu está menos preto

busto ou explanada
mas só de sombra
a solidão redonda
desta vida parada

não é flor nem bomba
nem página virada
nem a hecatombe
fria e ferial

da charada final
e indesejada !

Falta o indulto especial da tua mão
e tu a dizeres-me, aguda e de assalto:

 "A solidão
é nada."

a cabeça começa por fazer dueto com o teu relógio
crepita sobre a almofada
parece mesmo um gatilho em desuso
uma flecha detida por um hábito lívido

são já os primeiros rumores estremunhados
no tablado das coisas
para onde a luz, como tu, atira os braços
como tu um beijo

enorme e distraída oficina conjugal

é agora a infalível
serpente inofensiva e doméstica do sol
monstro diluviano de capoeira
a farejar
com um aspecto acabrunhado de enfermeiro despedido
a fresta que permita o carnaval

está então na hora?

a cabotagem entre portos diminuídos
tenazmente em circuito cinzento
o tráfego livre dos gestos, enrugado apenas
pelo milagre de um ou outro vizinho mais mumificado
se levar pela mão a cara de brinquedo do filho

a quem acabam por perdoar por não ter ainda convite
e é só entrar

no solfejo nauseante
no cerimonial mercantilista do braço ao peito





josé sebag
surrealismo abjeccionismo
antologia organizada por mário cesariny
edições salamandra
1992





28 abril 2012

clarice lispector / já escondi um amor com medo de perdê-lo





Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram...  Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:

- E daí? EU ADORO VOAR!






clarice lispector

27 abril 2012

antónio josé forte / libertação





Descerão por paredes sangrentas
e subirão do asfalto
ganindo com um prego na língua
com os pulsos atados às patas
sobre pulmões raivosos em barcos de esterco
e não olharão nem para baixo nem para o alto
mas para a frente
para o horizonte de fatias vermelhas
e para trás
para os afogados sem mar sem terra natal sem paisagens marinhas
cada um com um buraco em seu peito
esguichando palavras estridentes
descerão atravessando gargantas
e subirão pela espinha a golpes de jejum
descerão empurrando palavras
transportando-as ao pescoço como cintos de salvação
abrindo crateras nas cabeças queridas
e olhos nos olhos dos aflitos
subirão do asfalto
transparentes e feridos
com os olhos nas mãos
a cabeça no sangue
chegarão aos pares ligados pela boca
com um estandarte negro seguro nos dentes
e descerão sempre cada vez mais e cada vez de mais alto
até chegar à orla do inferno chorarem as últimas lágrimas e par-
                                                                     [  tirem de vez.





antónio josé forte
40 noites de insónia de fogo de dentes numa girândola
implacável e outros poemas
lisboa
1958





26 abril 2012

ángel campos pámpano / a lição






que eu não esqueça nunca
a 1uz que me ensinaste

a que ascendia do fundo
da tua antiga inocência
e transbordava
o espaço colocado
entre tuas coisas e as minhas

que nunca esqueça
certas palavras tuas
que falavam da tua gente
dos dias de cinema
do pai
da guerra
de duas mulheres sozinhas tanto tempo

é essa zona intacta da tua voz
onde não chego
tua presença e a minha
o mundo que respiras
o desse menino
sentado entre as pedras 
atentos os seus olhos
ao brilho dos teus olhos

hoje a tua voz contida
une-me mais
às palavras que não percebo

a leve passagem da tua voz
fura o ar e vibra
expande-se
mais aquém da luz que antecede
o rosto dessa infância sem testemunhas

emudecia sempre quando menino

porém se tu falavas nascia outro silêncio





ángel campos pámpano
traduçáo de antónio cândido franco
diversos nr. 15
2009

25 abril 2012

Sempre!

O 25 de Abril tem autores e tem dono: fomos nós e é nosso. Sempre!



sophia de mello breyner andresen / como uma flor vermelha






À sua passagem a noite é vermelha
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.

Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.

Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.





sophia de mello breyner andresen
obra poética I
caminho
1999




sempre!


24 abril 2012

joão rui de sousa / a hipérbole na cidade





… … …
Rossio. Rossio mil e um, mil e dois, mil e três...
Rossio multímoda da Lisboa-viela.
Lisboa aquecida. Lisboa despida.
Lisboa-viagem numa caravela.

Barcos de papel à tona d’água.
Cestos de papel à vista, flor.
Papel nos bolsos, papel nas arcas.
Papéis-meninas a vender amor.

Polícia artefacto (vendedor vem comigo).
Relógio partido (parado ou não).
Rodelas de ginja encantada e um vidro
(Estão todos bebidos, caídos, perdidos,
irmão).

Gravatas sem vida (baratas, presentes).
Marinheiro por detrás (redondo, redondo).
Magalas com sorte, magalas doentes.
Galegos despidos na frente do mundo.

Rossio. Proibido parar, proibido avançar.
Proibido fugir, proibido fumar.
Proibido sorrir proibido olhar.
Proibido cantar,
                       proibido cantar.

          *

Sou pobre. Medito em tudo a meu modo,
Medito em porto (tecido, conteúdo).
Medito em seios (sabor e olfacto).
Medito em tudo.

Há europas desnudas espalhadas por coxas.
Há repúblicas doridas a pernoitar.
Há montanhas já fartas dos prazeres iníquos.
Há rios imaginários do amor do universo.

Geográfica e nossa é a condição de pobres.
Sobretudo em Rossio, Rossio mil e três.
 Com sorrisos nos lábios e letreiros às costas,
cantando alegremente:
                                 Estamos nus e gramamos.

Total a iniquidade de que estamos seguros.
Total a recompensa de mijo e areia.
Total o que somos, total o que fomos.
Total de pensarmos silêncio e candeia.
Total de mistela e de vão sacramento.
Total de miséria que um verme constrói.
Totais Descobertas... Eles lá o sabiam
explicar, se pudessem, como isso foi.

Rossio, meu amigo,
meu doidamente doido pelo chão.
Cais de Sodré vem comigo
Decifrar-me a canção:

Mil e dois, mil e três.
Mil e dois, mil e três.

… … …
A fome é uma mistura de carne
(pedras negras, .pedras brancas).
Desenhos? O tempo os desfaz.
Pombal restaurou. Pombal afinou.
Só não acabou o medo deste século.

Lisboa — a grande nau que não havia
no pensarmos sermos o que somos:
uma onda e outra sobre a outra onda,
feitas, de mil olhos, serpentinas.

Lisboa ou claro Tejo da ilusão.
(Funileiro à porta ou estar sentado.)
Somos o que somos: podres e serenos
na serena paz de fracassados.

Se os sinos da tua aldeia — Largo
de S. Carlos — falassem outra vez,
como diriam hoje agora:
Rossio mil e três?

Serrano e impossível.
Severo e impotente.
Cansado, impassível
grão podre
doente.

          *

Envelope aceso para enviar notícias,
novas muito antigas deste tempo.
Capitão viaja. Comandante à âncora.
Viva a morte, a noite e o desespero.

São estas as cordas de um cartaz turístico.
São estas as luzes dum assassinado.
Estrangeiro acena. E canta e grita:
Pobre noite, camarada.
… … …

Temos de coabitar.
O sonho dilata-se no sonho.
Ficaremos pobres como dantes?
Ficaremos cegos?

Estrangulem-me se quiserem.





joão rui de sousa
a hipérbole na cidade
o surrealismo na poesia portuguesa
org. de natália correia
frenesi
2002




este mês de abril


23 abril 2012

josé emílio pacheco / alta traição






Não amo a minha pátria.
O seu fulgor abstracto
não se deixa agarrar.
Mas (ainda que soe mal)
daria a vida
por dez lugares seus,
certa gente,
portos, bosques, desertos, fortalezas,
uma cidade desfeita, cinzenta, monstruosa,
várias figuras da sua história,
montanhas
- e três ou quatro rios.





josé emílio pacheco
tarde o temprano (poemas 1958-2000)
fondo de cultura económica
edição de ana clavel, 3ª edição
picacho-ajusco
2004


(versão de luís filipe parrado




22 abril 2012

benjamin péret / a desonra dos poetas



  
[…] O poeta luta contra toda a espécie de opressão: em primeiro lugar a do homem pelo homem e a opressão do seu pensamento pelos dogmas religiosos, filosóficos ou sociais. Ele luta para que o homem atinja definitivamente um conhecimento perfectível de si próprio e do Universo. Não se conclua disto que o poeta deseja pôr a sua poesia ao serviço de uma acção política, mesmo revolucionária. Mas a sua qualidade de poeta faz dele um revolucionário que deve combater em todos os terrenos: no da poesia pelos meios que a esta são idóneos e no terreno da acção social sem jamais confundir os dois campos de acção, sob pena de estabelecer a confusão que importa dissipar e, por conseguinte, de deixar de ser poeta, isto é, revolucionário.




benjamin péret
a desonra dos poetas
o surrealismo na poesia portuguesa
org. de natália correia
frenesi
2002



21 abril 2012

paula almada-negreiros / canção





Longe, muito longe onde as minhas mãos serão cúpulas para
                                                              [abrigar corujas
onde meus olhos asas de águia para abrir livros antigos
onde meus braços serão novas árvores daqui a
milhões de anos para uma nova floresta virgem

onde minha cabeça será o campanário duma igreja aldeã
antiquíssima para os homens do centésimo vigésimo quinto
                                                    [século depois de mim
onde minha boca será a gruta do lado de fora da Terra
                                                   [do lado de dentro do mar
onde se esconderão traineiras navegadas por sereias
de meus braços algas do princípio do mundo

onde minha cama será o barco para navegar em toda a Terra
                                                                         [cinzenta
com dunas que taparão árvores de deserto
onde num mundo em que EU se diz ALFABETO NÚMERO
                               asteróide com um número
incapaz de se ler






paula almada-negreiros
ângulo poente
o surrealismo na poesia portuguesa
org. de natália correia
frenesi
2002



20 abril 2012

gil t. sousa / não saber


  

50

todas as noites não saber

em que hora parar
em que degrau de sombra

largar o recado para o nada

que nos queima
as mãos




gil t. sousa
falso lugar
2004





19 abril 2012

dórdio guimarães / guerra e civilização




  
II

revolver o sangue até a língua ser revólver
revirar os olhos com endereço revoltar a lua
revelar em fotograma ao retardador o céu
rodopiar em árvore um réquiem solar
revoar em ave a rápice aventura
revolver o universo no rito de morrer

redigo refazer reunir recomeçar
(remorso foi não amar de mais) repercutir
ah grande organista é a flor





dórdio guimarães
a idade dos lilases
o surrealismo na poesia portuguesa
org. de natália correia
frenesi
2002


18 abril 2012

eugénio de andrade / somos folhas breves onde dormem





Somos folhas breves onde dormem
aves de sombra e solidão.
Somos só folhas e o seu rumor.
Inseguros, incapazes de ser flor,
até a brisa nos perturba e faz tremer.
Por isso a cada gesto que fazemos
cada ave se transforma noutro ser.




eugénio de andrade
as mãos e os frutos
poesia
fundação eugénio de andrade
2000


17 abril 2012

hermes trismegisto / tabula smaragdina






Isto é a realidade não falseada mas certa e verdadeira.
O que está em cima é igual ao que está em baixo e o
que está em baixo é igual ao que está em cima para
realizar os milagres de uma coisa.
E da mesma forma que todas as coisas estavam sujeitas
à contemplação de uma, assim todas as coisas, por um
simples acto de contemplação, apareceram daquela.
O pai disto é o Sol. A mãe, a Lua. O vento transpor-
tou-a nas suas entranhas e a Terra foi a ama dedicada.
E a causa de todos os maravilhosos trabalhos espalha-
dos pelo mundo.
O seu poder é perfeito.
Se se entregar à terra, separará o elemento da terra do
fogo, o subtil do grosseiro.
Com grande sagacidade proporciona uma subida agra─
dável da terra para o céu.
Novamente proporciona a descida à terra e reúne em
si a força das coisas superiores e inferiores.
Assim, possuirás a glória do esplendor de todo o mundo
e toda a obscuridade fugirá de ti.
Assim, intensamente se robustece toda a fortaleza. Com
ela dominarás tudo o que é subtil e penetrarás em toda
a substância sólida.
Assim se criou este mundo.
Tal é a maneira de conseguir maravilhosas adaptações.
Por esta razão me chamam Hermes Trismegistus, porque
possuo três partes da sabedoria do mundo.
Assim se completa tudo o que tinha a dizer sobre a
operação do Sol.





hermes trismegisto
tabula smaragdina



16 abril 2012

fernando grade / aqui no planeta encontrado





Aqui no planeta encontrado todos sabem tudo sobre nós
e as raparigas tremendo de cio e de outras coisas mais
pedem-me poesia e bravas rosas bravas bravíssimas

Pouco se fala de electrões e de bombas
─ não vale a pena falar de coisas que incomodam as pessoas
Aqui as raparigas distribuem sorrisos pelas ruas
e há uma ternura especial nos seus olhos quando falam no amor

Dói o corpo e o sexo por não ter trazido coisas da Terra
Vim nu sem abraços navalhas ou mordeduras de pulga
Apenas trago dois versos do meu amigo Jorge
─ poeta anónimo que morreu sem ninguém dar por isso
Mas os versos do Jorge cabem dentro de um bolso
e a poesia não pode caber dentro de nada

Aqui no planeta todos sabem tudo sobre nós
mas há sempre quem pergunte que forma geométrica tem
                                                           [a fome terrestre
a fome espanhola portuguesa ultramarina
querem saber se Lisboa ainda é uma cidade de dez mil
                                                                             [coitadinhos
e se a mesa de pé-de-galo serve para abrir caminho na literatura
Há pouco uma criança castanha chegou-se a mim e disse:
─ Fernando como foi aquilo em Nagasáqui?

E vem gente de muitas bandas oferecer-me cogumelos
e calor de seios e tranças vermelhas bacteriologicamente puras
                                                                        [e vermelhas

Aqui todos os cogumelos são objectos turísticos
pois nunca mataram ninguém

Agora mesmo acabo de ser beijado por uma moça
Aqui qualquer pessoa pode beijar outra
mesmo sem a conhecer
É preso quem não tiver estômago para entrar neste ritual
há uma multidão de impotentes pelas ruas
beijando as virgens e as mulheres parideiras
Já me perguntaram que satisfação moral existe
em fazer filhos no Sena





fernando grade
desintegracionismo
o surrealismo na poesia portuguesa
org. de natália correia
frenesi
2002