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16 abril 2012

fernando grade / aqui no planeta encontrado





Aqui no planeta encontrado todos sabem tudo sobre nós
e as raparigas tremendo de cio e de outras coisas mais
pedem-me poesia e bravas rosas bravas bravíssimas

Pouco se fala de electrões e de bombas
─ não vale a pena falar de coisas que incomodam as pessoas
Aqui as raparigas distribuem sorrisos pelas ruas
e há uma ternura especial nos seus olhos quando falam no amor

Dói o corpo e o sexo por não ter trazido coisas da Terra
Vim nu sem abraços navalhas ou mordeduras de pulga
Apenas trago dois versos do meu amigo Jorge
─ poeta anónimo que morreu sem ninguém dar por isso
Mas os versos do Jorge cabem dentro de um bolso
e a poesia não pode caber dentro de nada

Aqui no planeta todos sabem tudo sobre nós
mas há sempre quem pergunte que forma geométrica tem
                                                           [a fome terrestre
a fome espanhola portuguesa ultramarina
querem saber se Lisboa ainda é uma cidade de dez mil
                                                                             [coitadinhos
e se a mesa de pé-de-galo serve para abrir caminho na literatura
Há pouco uma criança castanha chegou-se a mim e disse:
─ Fernando como foi aquilo em Nagasáqui?

E vem gente de muitas bandas oferecer-me cogumelos
e calor de seios e tranças vermelhas bacteriologicamente puras
                                                                        [e vermelhas

Aqui todos os cogumelos são objectos turísticos
pois nunca mataram ninguém

Agora mesmo acabo de ser beijado por uma moça
Aqui qualquer pessoa pode beijar outra
mesmo sem a conhecer
É preso quem não tiver estômago para entrar neste ritual
há uma multidão de impotentes pelas ruas
beijando as virgens e as mulheres parideiras
Já me perguntaram que satisfação moral existe
em fazer filhos no Sena





fernando grade
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