Longe, muito longe onde as minhas mãos serão cúpulas para
[abrigar corujas
onde meus olhos asas de águia para abrir livros antigos
onde meus braços serão novas árvores daqui a
milhões de anos para uma nova floresta virgem
onde minha cabeça será o campanário duma igreja aldeã
antiquíssima para os homens do
centésimo vigésimo quinto
[século depois de mim
onde minha boca será a gruta do lado de fora da Terra
[do lado de dentro do mar
onde se esconderão traineiras navegadas por sereias
de meus braços algas do princípio do mundo
onde minha cama será o barco para navegar em toda a Terra
[cinzenta
com dunas que taparão árvores de deserto
onde num mundo em que EU se diz ALFABETO NÚMERO
asteróide com um número
incapaz de se ler
paula almada-negreiros
ângulo poente
o surrealismo na poesia
portuguesa
org. de natália correia
frenesi
2002