Ligo-a como se
fosse uma torneira,
nem frio nem
quente, só tépido infotenimento,
e dela jorram
as provas cintilantes
de conflitos,
misérias, concupiscência,
desatrelados
pouco a pouco, em remissões
de publicidade
ansiosa que antecipa
para nosso bem
a melhor vida dependente
de uma compra,
de alguma aquisição indispensável.
Um carro
lustroso dá curvas na chuva murmurante,
uma praia de
alvura óssea acolhe peles bronzeadas,
um toalhete
acalma as rugas de uma bela enrugada,
um unguento
consola a dor sedentária,
dentes falsos
resplandecem, a cerveja provoca alegria,
e cabelos
pintados arremessam a cor pelo ecrã:
erupções de luz
bebidas pelo meu cérebro,
que depressa se
cansa, até ficar sequioso outra vez.
john updike
ponto último e outros poemas
trad. ana luísa
amaral
civilização
editora
2009