Escrevo-te da noite girassolada dos trópicos. A
riviera é
Um velhíssimo meeting de gerações de ébrios. As
raparigas,
em Madrid, foram muito amáveis. Mas tenho razões
para
voltar a barcelona, talvez no verão. Viajei no
comboio
de Paris onde conheci alguns escritores refugiados.
Um poeta
das astúrias ria com vinho escorrendo-lhe dos
lábios.
Tenho a impressão que em alguns minutos te
descrevia
O amor quente que me tomou em Almalfi, onde me
lembro
de sebastian. Subitamente, num outono escuro, em
Pádua de
que já falei, estive toda uma tarde a ler os teus
poemas e
a chorar. Fazia um vento azulado e áspero e as
mesas de
metal emitiam dolorosos sons ao longo da vazia
esplanada.
Dos jardins queimados em Toledo não te direi nada.
Ríamos.
Éramos um grupo estranho, talvez por um sopro
azulado de
Nêsperas ter feito curvar os rostos até aos livros,
numa
praia. Era o algarve, extenso, com a doce cal e os
terraços
de choro nocturno, com o céu claríssimo do sul sacrificando
o que nos era possível criar, escrever, amar. Regressei
a portimão quando as flores de pesca se alongavam
pela margem. Alguém me escrevera de um café em
Lagos
e eu conhecia mesmo vários poetas em badajoz, onde
me
lembro de hemingway indo às touradas. Escrevo-te
pois, de um snack-bar, em pleno setembro, com um
rosto lindíssimo afundado numas nuvens, e
destilando
o seu cinzento choro, com a guerra civil cantando
à minha volta os hinos roucos das ruas, suaves como
casacos de montanha, com a sua maquillage
de sangue e de crianças. Tudo são preparativos para
uma
expedição que desconheço, mas lentamente em mim
apercebo-me de que também eu irei nela e verei os
aviões sobrevoando os vestidos escuros das
mulheres,
onde os lábios desmanchados compõem ao som das
fogueiras nocturnas e nos vasos áticos do repouso,
as amadas flores de sal, os beijos ardentes que
receberão
os poetas presos no Bósforo.
rui diniz
ossuário
(ou: a vida
de james whistler)
& etc
1977