Uma casa vazia, outra demolida,
uma criança morta a quem contam histórias,
fantasmas despedidos que se desvanecem,
cinza e osso, pedras derrotadas.
Quartos alugados, repetidos espaços fugazes,
as marcas dos corpos nos lençóis,
uma pesada ressaca sem destino,
vozes que ninguém escuta, imagens de sonhos.
Desnecessárias páginas, gaivotas na janela,
mar ou deserto, brancos despojos,
sinais e rostos na parede da memória.
Papilas sujas de sol no México, firmes
os olhos redondos da caveira
contemplam passado, presente, futuro,
sombras tenazes, metáforas gastas.
Olho sem ver aquilo que já vi,
informe fumo que se esfuma,
invisível mortalha debaixo de nuvens fugazes.
Fumo na noite e no súbito nada.
juan luis panero
poesia espanhola de agora vol. I
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997