Mostrar mensagens com a etiqueta joan brossa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta joan brossa. Mostrar todas as mensagens

15 março 2023

joan brossa / o sangue de papel

 
 
Às vezes
gosto de seguir o lancil
do passeio e caminhar a grandes
passadas como se contasse as pedras.
 
Aqui abandono o caça-borboletas
e tiro a barba postiça.
 
O caminho
tem de um lado
a planície e do outro
um matagal espesso com
um bosque de pinheiros seculares
ao fundo.
 
 
 
joan brossa
transversões
poemas reescritos em português
por zetho cunha gonçalves
contracapa
2021
 




23 janeiro 2023

joan brossa / o tempo

 
 
Este verso é o presente.
 
 
O verso que acabam de ler é já o passado
– ficou para trás depois da leitura –
O resto do poema é o futuro,
que não está ao vosso
alcance.
 
 
As palavras
estão aqui, tanto faz que as leiam
como não. E nenhum poder terrestre
o pode alterar.
 
 
 
joan brossa
transversões
poemas reescritos em português
por zetho cunha gonçalves
contracapa
2021





03 abril 2013

joan brossa / arlequim mete no bolso...





Arlequim mete
no bolso das calças a bolsa de Pierrot.
Pierrot, portanto perdeu a bolsa.
Dómino, o cão de Pierrot, caça perdizes
ao luar.

Pulcinella e Colombina convidam Pierrot a jantar.
Pierrot está desolado.
Com um salto, Dómino aparece no meio da mesa
com as calças de Arlequim.
Já podem imaginar a alegria de Pierrot!
Na manhã seguinte devolvem as calças a Arlequim e brindam
á saúde de Dómino.

Por trás
uma armação ou bastidor percorre de cima
a baixo este poema.
A teia tem um punho na sua parte inferior.
Levantai-a um pouco e o poema ficará
suspenso no ar.




joan brossa
(barcelona, 1919 - 1998)
quinze poetas catalães
trad. egito gonçalves
ed. limiar, porto
1994