Dantes, quando me cansava, quando era velho,
via nos arvoredos oásis bem-aventurados
para morrer e sonhava chegar até eles
ainda que estivesse longe a meio da vida.
Agora já não me lembro dessas longas esperas
no deserto daquela velhice já esquecida.
Já cheguei ao arvoredo da minha juventude,
aí, junto da ponte, ao lado da corrente
do rio, e decidi apenas olhar e descansar.
Vejo o mesmo que via porque nada mudou.
O tempo não passou, tal como alguém disse
naquela tarde: «Não passará o tempo; não te preocupes».
E foi verdade aquele vaticínio. Nada mudou
e nem sequer o meu tempo, a idade estropiada,
a vida consumida em canseiras, todas as minhas viagens
e o meu profundo exílio, a minha eterna distância, me desgastaram.
Por isso sou jovem agora que já não tenho
idade para lembrar e por isso já não espero
no deserto como fazia antes, sem esperança.
ángel rupérez
poesia espanhola de agora I
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997
via nos arvoredos oásis bem-aventurados
para morrer e sonhava chegar até eles
ainda que estivesse longe a meio da vida.
Agora já não me lembro dessas longas esperas
no deserto daquela velhice já esquecida.
Já cheguei ao arvoredo da minha juventude,
aí, junto da ponte, ao lado da corrente
do rio, e decidi apenas olhar e descansar.
Vejo o mesmo que via porque nada mudou.
O tempo não passou, tal como alguém disse
naquela tarde: «Não passará o tempo; não te preocupes».
E foi verdade aquele vaticínio. Nada mudou
e nem sequer o meu tempo, a idade estropiada,
a vida consumida em canseiras, todas as minhas viagens
e o meu profundo exílio, a minha eterna distância, me desgastaram.
Por isso sou jovem agora que já não tenho
idade para lembrar e por isso já não espero
no deserto como fazia antes, sem esperança.
poesia espanhola de agora I
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
1997