03 janeiro 2023

philip larkin / esquecer o que

 



 
Parar o diário
Foi aturdir a memória,
Foi um começo em branco,
 
Começo que já não cicatriza
Com tais palavras, tais acções,
Que tornaram inóspito o acordar.
 
Queria-as terminadas,
Despachadas para enterro
E rememoradas
 
Como as guerras e os invernos
Que faltavam para lá das janelas
De uma infância opaca.
 
E as páginas vazias?
Se vierem a preencher-se,
Que seja com a observação
 
De recorrências celestes,
O dia em que vêm as flores,
E quando partem as aves.
 
 
 
philip larkin
janelas altas
trad. rui carvalho homem
cotovia
2004
 



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