O meu século não chegou a andar de gatas. Com oito
anos já se arrastava pelas minas de carvão, pouco tempo depois combatia nas
trincheiras. E as únicas lágrimas que lhe vi chorar foram as dos gases
lacrimogéneos.
Picasso morreu antes que pudesse levar a cabo o seu
sonho, um único fresco que ocupasse não a abóbada da Capela Sixtina mas a
abóbada celeste.
Fernando Pessoa morrera muitos anos antes numa
clínica lisboeta completamente ignorado, depois de ter colocado um padrão com a
cruz das quinas num dos areais de areia mais fina do universo.
Talvez o meu século seja uma comédia banal, embora
filmada por homens de talento, onde algumas estrelas se passeiam com tanto à vontade
como se fosse na Via Láctea e de que a generalidade dos participantes desconhece
o argumento.
jorge de sousa braga
o poeta nu
fenda
1991
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