não é preciso voltar o rosto
para a transparência dos olhos que passam
porque as coisas renunciam ao mistério
e à louca exaltação das personagens.
Como se nada houvesse inviolável
nem branco nem silêncio nem imagens
crescem corpos queimados de insónia
e em seu soberbo abismo há claridade.
Onde porém subir ao pensamento
àquele que deseja, àquele que arde
e iluminar a face da inocência
enchê-la de pavorosa insubmissão?
Como perder a boca nessa espuma
e com ela as palavras invisíveis
e ser-se ainda inabitável corpo
cabeça faca espelho idioma?
Não é preciso voltar o rosto
quando o próprio rosto é excessivo
os olhos se espantam em remoinhos e tumultos
e os espelhos se enchem de gritos
laureano silveira
hífen 3 out 88 mar 89
a poesia / as outras artes
cadernos semestrais de poesia
1988
para a transparência dos olhos que passam
porque as coisas renunciam ao mistério
e à louca exaltação das personagens.
nem branco nem silêncio nem imagens
crescem corpos queimados de insónia
e em seu soberbo abismo há claridade.
àquele que deseja, àquele que arde
e iluminar a face da inocência
enchê-la de pavorosa insubmissão?
e com ela as palavras invisíveis
e ser-se ainda inabitável corpo
cabeça faca espelho idioma?
quando o próprio rosto é excessivo
os olhos se espantam em remoinhos e tumultos
e os espelhos se enchem de gritos
hífen 3 out 88 mar 89
a poesia / as outras artes
cadernos semestrais de poesia
1988