IV
Há
cidades cor de pérola onde as mulheres
existem
velozmente. Onde
às
vezes param e são morosas
por
dentro. Há cidades absolutas
trabalhadas
interiormente pelo pensamento
das
mulheres.
Lugares
límpidos e depois nocturnos,
vistos
ao alto como um fogo antigo,
ou
como um fogo juvenil.
Vistos
fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há
lugares de um esplendor virgem,
com
mulheres puras cujas mãos
estremecem.
Mulheres que imaginam
num
supremo silêncio, elevando-se
sobre
as pancadas da minha arte interior.
Há
cidades esquecidas pelas semanas fora.
Emoções
onde vivo sem orelhas
nem
dedos. Onde consumo
uma
amizade bárbara, um amor
levitante.
Zona
que
se refere aos meus dons desconhecidos.
Há
fervorosas e leves cidades sob os arcos
pensadores.
Para que algumas mulheres
sejam
cândidas. Para que alguém
bata
em mim no alto da noite e me diga
o
terror de semanas desaparecidas.
Eu
durmo no ar dessas cidades femininas
cujos
espinhos e sangues me inspiram
o
fundo da vida.
Nelas
queimo o mês que me pertence.
Olho
minha loucura, escada
sobre
escada.
Mulheres
que eu amo com um des-
Espero
fulminante, a quem beijo os pés
supostos
entre pensamento e movimento.
Cujo
nome belo e sufocante digo com terror,
com
alegria. Em quem toco levemente
levemente
a boca brutal.
Há
mulheres que colocam cidades doces
e
formidáveis no espaço, dentro
de
ténues pérolas.
Que
racham a luz de alto a baixo
e
criam uma insondável ilusão.
Dentro
da minha idade, desde
a
treva, de crime em crime — espero
a
felicidade de loucas delicadas
mulheres.
Uma
cidade voltada para dentro
do
génio, aberta como uma boca
em
cima do som.
Com
estrelas secas.
Parada.
Subo
as mulheres aos degraus.
Seus
pedregulhos perante Deus.
É
a vida futura tocando o sangue
de
um amargo delírio.
Olho
de cima a beleza genial
das
suas cabeças
ardentes:
— E as altas cidades desenvolvem-se
no
meu pensamento quente.
herberto helder
poesia toda
lugar
assírio
& alvim
1996