Ele gostava da luz do fim de tarde a diminuir
Na sala de estar e não acendia
As luzes até passar das oito.
A mulher queixava-se, chamava-lhe sombrio, mas
Não era um caso de melancolia; gostava apenas
Do aspecto das coisas no ar cada vez mais escuro
Tão gradual e imperceptivelmente que parecia
O próprio ambiente em que vivemos. Todos os homens
E mulheres merecem um momento verdadeiro de grandeza
E este era o seu, este interior Holandês, onde se entrou,
Que se possui, tão calmo e contudo tão cheio
De detalhes: as roupas despidas do casal espalhadas
Nas costas das poltronas, o cão atrás dum sapato,
A janela bem aberta, a luz do fim de tarde.
david lehman
uma echarpe no banco da frente
trad. francisco josé craveiro de carvalho
edições eufeme
2017