● por muitos anos ●
● esperei a
tempestade e a destruição ●
● ficava na cama na
janela na porta olhando ●
● longe ela a
tempestade se preparar os anos ●
● passaram a
tempestade grasnando veio ●
● veio caminhando e
eu velho envelhecia ●
● perdi as forças
olhando pela janela ●
● a tempestade bem próxima
de casa ●
● as cidades os
campos já se foram devorados ●
● dentro da fome da
tempestade engolidos ●
● sinto a casa tremer
as telhas ladrarem ●
● sendo arrancadas
como pedaços de carne ●
● de vísceras
enquanto tudo diminui e some ●
● meu mundo se tornou
minúsculo um grão ●
● minha cama meus
travesseiros o lençol ●
● a tempestade não
brinca nem arrefece ●
● agora a treva do céu
aparece e roda roda ●
● gigante que tritura
a terra as gentes o mar ●
● só a cama meus três
travesseiros o lençol ●
● que agora se foi
logo os travesseiros a cama ●
● se partem se
espalham se retorcem e eu rio ●
● talvez não seja
pelo elefante cor de rosa ●
● azul que se
equilibra sobre o cão sarnento ●
● como um palhaço num
picadeiro pobre ●
● olhando um elefante
cor de rosa azul ●
● que se equilibra
sobre um cão sarnento ●
● com as pernas finas
cor de rosa azul ●
● pernas finas rosa
azul e eu fico rindo ●
● das hienas desse
circo que gira gira ●
● das focas gordas
das baleias amestradas ●
● das equilibristas bêbadas
sobre cavalos ●
● dos banqueiros
domadores de ratos ●
● contando litros de
sangue suor e olhos ●
● em conserva línguas
roxas e inchadas ●
● mas talvez não seja
por nada disso e eu ●
● só ria pelo
elefante cor de rosa azul ●
● que se equilibra
sobre o cão sarnento ●
● com suas pernas
finas rosas e azul azul ●
● ou porque rodopiam
sobre o resto de mim ●
● toneladas de
cebolas que me faziam chorar ●
● tomates como sois
como estrelas do mar ●
● talvez seja por isso
que gargalho e danço ●
● ou até mesmo por
não restar nada de mim ●
● só o riso com
dentes quebrados e podres ●
● no centro ridículo
dessa tempestade nua ●
● sim é essa
dentadura partida e cor de rosa ●
● sem lábios sem língua
rosa azul sem rosto ●
● o que me faz rir
faz no melhor dos mundos ●
● como se as
tempestades não existissem ●
alberto lins caldas