Mostrar mensagens com a etiqueta alberto lins caldas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta alberto lins caldas. Mostrar todas as mensagens

24 outubro 2019

alberto lins caldas / tântalo




I

 aqui é o caos  
● o redemoinho do caos 
● no centro indistinto do caos ●
● como nuvem de corvos e abutres ●
● todos devorando pombos e pardais ●
● nada menos caos no turbilhão de neve ●
● passos deslizando na lama de neve ●

● vento folhas sementes mortas ●
● arvores se curvando como servos ●
● muros se movem indo pra calçada ●
● muros desejando cair rolar e voar ●
● planando no turbilhão de neve ●
● como nuvem de corvos e abutres ●
● todos devorando pombos e pardais ●

● neve q bate nas portas sem entrar ●
● todos escondidos sobre as camas ●
● no centro indistinto do caos a nuvem ●
● essa q cada vez devora mais e cresce ●
● os velhos ossos dos muros o marmore ●
● todas essas arvores mortas pelo frio ●
● se partindo curvadas como servos ●

● ruas se contorcendo ●
● ao redor do centro indistinto do caos ●
● como nuvem de corvos e abutres ●
● nada menos caos no turbilhão de neve ●
● devorando os q caem na lama de neve ●
● vendo quase na treva do dia o caminho ●
● todos devorando pombos e pardais ●




alberto lins caldas
tântalo
flan de tal
2019





08 maio 2018

alberto lins caldas / a tempestade





● por muitos anos ●
● esperei a tempestade e a destruição ●
● ficava na cama na janela na porta olhando ●
● longe ela a tempestade se preparar os anos ●
● passaram a tempestade grasnando veio ●
● veio caminhando e eu velho envelhecia ●
● perdi as forças olhando pela janela ●

● a tempestade bem próxima de casa ●
● as cidades os campos já se foram devorados ●
● dentro da fome da tempestade engolidos ●
● sinto a casa tremer as telhas ladrarem ●
● sendo arrancadas como pedaços de carne ●
● de vísceras enquanto tudo diminui e some ●
● meu mundo se tornou minúsculo um grão ●

● minha cama meus travesseiros o lençol ●
● a tempestade não brinca nem arrefece ●
● agora a treva do céu aparece e roda roda ●
● gigante que tritura a terra as gentes o mar ●
● só a cama meus três travesseiros o lençol ●
● que agora se foi logo os travesseiros a cama ●
● se partem se espalham se retorcem e eu rio ●

● talvez não seja pelo elefante cor de rosa ●
● azul que se equilibra sobre o cão sarnento ●
● como um palhaço num picadeiro pobre ●
● olhando um elefante cor de rosa azul ●
● que se equilibra sobre um cão sarnento ●
● com as pernas finas cor de rosa azul ●
● pernas finas rosa azul e eu fico rindo ●

● das hienas desse circo que gira gira ●
● das focas gordas das baleias amestradas ●
● das equilibristas bêbadas sobre cavalos ●
● dos banqueiros domadores de ratos ●
● contando litros de sangue suor e olhos ●
● em conserva línguas roxas e inchadas ●
● mas talvez não seja por nada disso e eu ●

● só ria pelo elefante cor de rosa azul ●
● que se equilibra sobre o cão sarnento ●
● com suas pernas finas rosas e azul azul ●
● ou porque rodopiam sobre o resto de mim ●
● toneladas de cebolas que me faziam chorar ●
● tomates como sois como estrelas do mar ●
● talvez seja por isso que gargalho e danço ●

● ou até mesmo por não restar nada de mim ●
● só o riso com dentes quebrados e podres ●
● no centro ridículo dessa tempestade nua ●
● sim é essa dentadura partida e cor de rosa ●
● sem lábios sem língua rosa azul sem rosto ●
● o que me faz rir faz no melhor dos mundos ●
● como se as tempestades não existissem ●




alberto lins caldas