[…]
M.C. - «Queria de ti um país de
bondade e de bruma
queria de ti
um mar de uma rosa de espuma».
Olha, eu não
sei se realmente era isso que eu queria…
não sei… posso
tê-lo querido. Posso ter desejado isso
diante de
algumas adversidades. O poema também é
verdade, não
te vou dizer mais que o que está lá escrito.
É aquilo!
Fomos sempre lunáticos, lunáticos do passado
e lunáticos do
futuro, não há nenhum país que esteja
quatrocentos
anos à espera que um rei reapareça. Não
existe. E
depois aparece um borra-botas, é ele!
Trezentos anos
depois! Isto é fantástico, isto é bonito
até. É um povo
menino, um povo criança, não é?
Mas depois não
dá para ser país. Como a Alemanha.
Não dá… E
querem que sejamos, querem-nos…
A CEE quer
isso. Que sejamos. Que cresçamos.
Há uma coisa
muito bonita, eu não sei alemão, e em
inglês também
não averiguei, eu tenho ali um
dicionário de
marinha, isto é assim, o barco assim,
a vela assado,
depois há uma expressão que diz assim:
«dar a volta
ao mundo», que é uma operação no alto
mar, mas tu
sabes o que isto é? É fazer uma rotação
completa com o
barco. Quer dizer, o mundo são eles,
não é o que
está fora.
Mas suspeito
muito de que isto só cá. Dar a volta ao
mundo é ir a
Berlim e a Pequim, não é? Não, não, não.
É dar uma
volta a esta cadeira onde eu estou, dei a
Volta ao
mundo, porque o mundo sou eu.
M.C - Não, não pode ser dor.
Pode-se ter saudade
de um paraíso,
sabes? Saudades do inferno é que
ninguém tem. E
o Pascoaes disse isso, que a saudade
é uma
conjunção, um anel, um anseio de um passado
já
desaparecido e de um futuro também, a chegar.
São duas
coisas juntas. Porque tornar presente uma
coisa que já
passou, já é de alguma maneira futurá-la,
não é?
Tenho ali
muitos livros sobre a saudade… agora, é
uma coisa um
bocado portuguesa, não é? Porque
somos um país
aqui do extremo da Europa, aqui à
beira-mar… não
temos muitas hipóteses. Então,
sonhamos,
sonhamos muito. Muito sonhadores…
quer dizer…
tenho saudades de comer uma grande
lagosta, tenho
saudades de quê? De?...
olha, tenho
saudades de voar! Ah! Isso tenho!
Porque eu, não
sei desde quando, mas quase desde
miúdo, até aos
cinquenta anos, todas as noites,
eu já
adormecia a sorrir de gozo, porque sonhava
SEMPRE que
voava, e era uma coisa tão boa,
tão boa…
uiiiii!
E eu
orientava-me! E depois não tinha… quer dizer,
não havia
paisagem. Era o espaço puro… não se via
nada.
Maravilha.
[…]
autografia
um filme de miguel gonçalves mendes
a phala 1#2007
de s. jerónimo a cesariny